09/09/2014

- Paz insone


Dormir é luxo que noite passada minha mente obrigou meu corpo a abdicar. Ao rolar para lá e para cá imaginando se ficaria imune desses maus momentos se tivesse comprado o colchão do comercial do copo de suco que não derrama, tivesse tomado maracujá ou me entregado fervorosamente as práticas de meditação, cheguei a uma conclusão sem sequer sair da cama.

O que falta não é redenção aos anúncios, o capitalismo que lide com isso e depois veja se há para mim ainda alguma possibilidade de perdão, mas se não houver, fica dito que o que nos inquieta a noite, em colchões de água, de mola ou de palha, é a ausência de respostas.

É a certeza de que o sol vai nascer, mas que você pode não acordar. Aquela de que o ônibus vai estar lotado, que vem acompanhada da dúvida que te faz repensar se escolheu o lado certo ou deveria ter atravessado a rua, e a constatação de que pessoas morrem atravessando na faixa e muito mais fora delas. Em meio a tantas incertezas ter sossego é uma das coisas mais difíceis do mundo. O que é que faz com que a cabeça no travesseiro repouse em paz? O que é paz?

É estar no monte Everest sozinho? Sentir o vento soprar? É se desprender ou se algemar a algo que se ama? Não, não, não. Paz não é mudez, não é ligação que caiu e não se percebeu. Paz não é sinônimo de silêncio, de vento no rosto, esse é na verdade seu parceiro mais fiel a qual foi atribuído o papel de coadjuvante. Paz, é barulho, é acima de tudo, festa de arromba dentro da alma.

Paz está na alegria da dança vergonhosa da vitória saída da década de oitenta que você faz quando não tem ninguém por perto, expressada em um sorriso de conforto para quem se encontra em desespero. É vencer uma maratona sem precisar ganhar de milhares de pessoas. Apesar de inscritos, e largarem na mesma posição, cada um corre para um lado em direção ao seu pódio exclusivo onde só existe o degrau mais alto. Não existe medalha de prata, não existe fração, apesar de muitas vezes, a paz, vir de uma divisão chamada compartilhar.




Só porque a música é ensurdecedora do lado de dentro calando todos os medos, isso não lhe concede o direto a inexistência. E aqui faço um apelo especial ao coração inquieto e insone: as melhores coisas não são escutadas pelos ouvidos, trate de desenvolver suas próprias orelhas, porque em meio a essas olheiras da manhã seguinte acabei de descobrir que quero festas como essas dentro de mim por muito tempo, mas que ainda sejam espaças o suficiente para considera-las algo especial.

Não preciso de um colchão novo ou de maracujá em cápsulas, mas um home theater iria muito bem, obrigada. Vou precisar de uma outra noite acordada para tentar descobrir se a paz tem preferência por alguma marca de fone de ouvido, mas reconheço o avanço feito até aqui. Melhor comprar junto também uma cafeteira para tentar espantar o bocejo, obra dessas reflexões frequentes do horário da madrugada

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