31/08/2014

- Juntos e Misturados (mais uma vez)


Finda a época com mais bolões por metro quadrado e consultas de adivinhações com direito a sérias conversas com o cosmos, não só os apostadores mais inveterados, mas também os medrosos, perderam a oportunidade de se declararem vencedores ou afirmar os dons em interpretar as forças do universo ao não arriscarem a adivinhar o desfecho previsível do novo filme com o mesmo diretor responsável por Click, Frank Coraci. Nele, Adam Sandler e Drew Barrymore voltam aos cinemas dez anos depois de Como se Fosse a Primeira Vez e dezesseis de Afinados no Amor, para reafirmar a química, mesmo que sob uma fórmula batida.

Adam vinha de uma sucessão de filmes desanimadores. Gente Grande, Cada um Tem a Gêmea que Merece, e Esposa de Mentirinha começaram a levantar questionamentos sobre o paradeiro do homem que construiu seu nome em Hollywood ao preço de muitas risadas. Seu rosto figurava nas caixas de cereais e notas de pedágio, mas ainda que um tanto tímido, ele volta a dar o ar da graça no novo filme. Drew por outro lado, se não mereceu o Oscar, não deu motivos para decepções. Indo das comédias românticas, como Amor à Distância, para o drama de Estão Todos Bem, conseguiu manter o público satisfeito ao longo do tempo.

Jim é o gerente de uma loja de artigos esportivos. Viúvo ao perder sua mulher para o câncer e com três filhas no currículo, bagagem acima do peso dependendo de quem resolva carrega-la, ele não consegue seguir em frente. Lauren ganha a vida arrumando closets. Maníaca por organização, divorciada depois de sofrer uma traição e mãe de dois filhos, pode até ter ânimo para tocar a vida adiante, mas a cada instante parece ter menos ideia de para onde quer leva-la. É em um encontro às escuras que os dois acabam se conhecendo, e o que parecia não poder dar certo nem com promessa de amarração em três dias ou as custas de espancamento, se torna uma aventura pela África, bem sucedida na arte de provocar sorrisos.


Abusando de todos os clichês já conhecidos, Frank Coraci tenta reunir várias cerejas em um único bolo. Vemos Drew e sua familiaridade com campos de baseball, marca de alguns de seus sucessos como em Nunca Fui Beijada, e as tentativas frustradas de Adam Sandler com as crianças, mas ainda assim muito sinceras, como no clássico O Paizão. Se por um lado, Juntos e Misturados não inova, é certo que pelo menos na missão de divertir ele se sai bem.

Balões, rinocerontes, avestruzes, macacos instrumentistas e Terry Crews, que ficou marcado pela interpretação de Julius, o pai pão-duro de Chris, abusa da simpatia e é responsável pelo comando de um coro fiel, com função de não deixar a situação cair no terreno da normalidade, palavra que parece nem existir e mais que proibida no vocabulário.

Apesar da carga dramática em lidar com a perda definitiva e a ausência por opção de alguns laços familiares, a fugacidade dos relacionamentos e o equívoco das primeiras impressões, o roteiro não toma para si a responsabilidade de aprofunda-las, e nem deveria. Criar expectativas entorno de quem já deixa claro que a intenção primordial é fazer rir, é pedir para se decepcionar, mas mesmo assim Frank demonstra que apesar de não ser seu objetivo principal, ainda é possível extrair mensagens de valor do filme.

Observar as paisagens de um safári na África, ter uma boa desculpa para ouvir Boy II Men mais que uma vez e ver as várias referências a cultura pop, fazem o ingresso vale a pena não apesar dos clichês mas por causa deles. Ao contrário do que estão dispostos a nos fazer acreditar, eles são ótimos se consumidos com moderação.       
   
Nessa receita de pitadas de drama, cenário exótico e itens indispensáveis para um bom filme do gênero, ele não sai de sua zona de conforto, mas quem é que quer se sentir incomodado, cutucado e melancólico com um filme de comédia? Quero mais é ver Adam Sandler e Drew Barrymore juntos de novo sem tem que esperar quase meia década para isso.


NOTA: 3.5 / 5

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