14/08/2014

- A escolha do shampoo

 

Hoje errei, e isso já passou da época de ser uma novidade. Notícia de ontem, ninguém dá mais bola para esse tititi, que não é regravação de novela global, porque já não é a primeira vez e nem tem previsão de término muito em breve, e isso agradeço a expectativa de vida e a precaução, que me impede de ser atropelada todos os dias e de correr quaisquer outros riscos que me levem a óbito.

Errei ao ir na cabeleireira que não devia de jeito nenhum ser permitida a ficar com uma tesoura na mão. Ao confundir o nome do filme que não, não é estrelado pela Julia Roberts e Hugh Grant, nem tem a Sandra Bullock no meio, e que por causa disso, não me dá a oportunidade de poder dizer que é só porque tenho uma tendência a confundir as duas. Errei e nem sempre foram triviais, e na maioria das vezes não teve revanche. Nem todo mundo é francês ou carrega dentro de si o espírito alemão.

Desisti de contar ás vezes que troquei a data de aniversário daqueles amigos que nasceram no mês de março, de ter esquecido o quê contei e para quem, de quando não segui a intuição e disse o que queria e de quando eu a escutei e me calei, mas me arrependo ainda mais de ter guardado dúvidas e de ter muitas certezas tão frágeis.

Depois de tanta lamentação, cansei. A culpa causa mais cansaço do que muita corrida de São Silvestre, porque se carrega mais do que o peso do próprio corpo. Se para que tudo faça sentido é preciso tirar de cada palavra um conselho sobre o modo de conduzir a vida, fui levada a acreditar pela própria que a grande chave da questão está em aceitar que cometemos erros. Saber que há tão poucas verdades absolutas na vida quanto galinhas que botam ovos de ouro ajuda a nos libertar da escravidão de nós mesmos, sabendo que as escolhas não têm em si um poder definitivo, mas que são necessárias para abrir novas possibilidades para o que se pode encontrar no caminho.

Hoje cometi um erro gravíssimo, comprei shampoo ao invés de condicionador. Vendo então os frutos da falta de atenção surgirem a minha frente respirei fundo. Ficarei sem poder lava-lo por um dia ou dois, até conseguir reunir coragem para voltar ao supermercado depois ter a raiva apaziguada pela necessidade, mas sou obrigada a admitir que ainda assim é um ótimo shampoo.

Ainda assim, confundindo embalagens de produto para cabelo, estrelas de Hollywood e aniversários se vive, e por mais que não tenha apego pelo especial de fim de ano ou cruzeiros caríssimos, Roberto Carlos tem razão. O importante são as emoções.

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