19/08/2014

- Mario Bros não pensou nisso


Encontrar bons encanadores pelo mundo é uma tarefa relativamente fácil. Achar alguns que se arrisquem pela parte elétrica não torna as coisas muito mais difíceis, mas um que também se dedique à profissão de gigolô reduz as buscas consideravelmente.

Fioravante (John Turturro) está com sérios problemas financeiros. Encanador, tem que trabalhar com arranjos de flores para pagar o aluguel. Em uma situação não muito diferente está seu amigo Murray, um livreiro, que mora no Brookilyn rodeado por uma colônia judaica conservadora, e que depois de falir a loja que estava há anos na família, vê na ligação de uma médica (Sharon Stone) à procura de novas aventuras na vida amorosa, a oportunidade de lançar o amigo na profissão mais antiga do mundo.



Mostrando que não é preciso o sexy appeal de Mick Jagger ou a beleza de George Clooney para fazer sucesso com as mulheres, Turturro vai ganhando a simpatia do público com suas poucas palavras ao longo do filme, que sob o nome de Virgil Howard faz da base de seu personagem um ponto de partida para a reconstrução da autoestima feminina, seja pela viuvez, carência ou por colocá-las em uma posição de poder e risco.

Woody Allen mais uma vez interpreta seu melhor papel: ele mesmo, mas agora rodeado por sobrinhos, o que não o impede de fazer disso uma oportunidade para lançar sobre o mundo infantil seu olhar irônico tão característico. Apesar dos cabelos brancos deixando claro que o tempo passa até para os ganhadores de mais prêmios da Academia do que os braços podem aguentar, e que isso não têm nada ou pouquíssimo a ver com a velocidade de palavras proferidas por minuto, apesar de colaborar para a lentidão de seu andar, ele ainda é capaz de aceitar a tarefa de falar pelos dois e cumpri-la como ninguém.



Murray além de ser responsável pelas cenas de comédia, alfineta os estereótipos da cafetinagem ao virar Dan Bango para a clientela que vai se expandindo no boca-boca, reserva um espaço para as piadas raciais e crítica o conservadorismo exagerado de sua própria religião, o que faz com que um dos pontos fortes do filme sejam justamente os diálogos, marca de Woody Allen, mesmo não sendo ele o responsável pela direção.

Amante a Domicílio é sim um bom filme, mas não deixa o desejo de uma segunda visita. John Turturro deixa a sensação de que ainda tem que aprender que para que arte da sedução em uma trama seja bem sucedida, é preciso mais que tango e uma profissão sexual. Ainda assim, é capaz de arrancar risadas, de provocar vontade de dançar ao som de saxofones, de valer o preço do ingresso e de uma pipoca, desde que seja das pequenas, porque mesmo presa há alguns clichês, é preciso admitir um tanto de imprevisibilidade a trama, pois com certeza Mario Bros não pensou nisso na hora de complementar a renda de encanador quando via o orçamento entrar no vermelho.


NOTA: 3.5 / 5

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